Como num contrato estou enjaulado. Você diz que me ama. Mas amor é liberdade. Então o que vivemos? Quando assinei, não li as cláusulas do nosso contrato. Pra onde foram meus amigos? Você costumava criticá-los. Pra onde foi toda a diversão? Divertir-me sem você era errado.

É difícil um garoto pequenino poder alguém aconselhar. Quem me ouvia além do meu cachorro e dos meus bonecos? Somos como bonecos nas mãos dos gigantes que se dizem ”adultos”. Não perguntam de onde vim, para onde eu vou, o que eu penso nem o que quero. Simplesmente me dizem onde ir, o que devo fazer, pensar, e querer. Como se nada eu pudesse acrescentar. Aceitei por amor, aprender como as pessoas aqui escolheram viver.

Às vezes quando alguém fala que vai ficar tudo bem, ou tenta nos consolar, parece distante. Dormi com os olhos em lágrimas, já tentei me distrair, só para não olhar… Olhar para o vazio que sentia. Me isolei e achei que nunca encontraria alguém para confiar, já encarei os céus com raiva, já encarei o mundo com medo, já encarei o chão e andei contando os paralelepípedos, esperando por algo encontrar. Já chamaram de carência, de infantilidade e até de crises existenciais.

Durante o intervalo todos se juntavam em grupos para lanchar e ele sentava sozinho na sala de aula mesmo, encarando o relógio, implorando que o tempo passasse. A sala logo ficou vazia, todos foram para o recreio. A porta se abre. Ela sem ser aluna, ou humana, e mesmo sem bater na porta, na sala entrou. Ela era gelada, lenta e silenciosa. Cabelos roxos, olhos cobertos pelos cabelos e um vestido largo, cinza cansado. Era como uma visita inesperada, talvez não tão desejada. Puxou uma cadeira e sentou do seu lado. Seu nome era Solidão.

Ele caminhava, sem saber exatamente onde seus pés o levavam. Mas na real, não eram seus pés que o guiavam. A voz do coração ele escutava. Durante a caminhada, ele observava a tudo e a todos que por ele passavam. Todos apenas corriam, nunca paravam, algo buscavam. Ele não entendia, e a um deles perguntava.

Ele morava numa casa gigante, distante, entre árvores e gelada, com uma lareira na sala. Não aceitava regras, não por ser rebelde, mas por não fazerem sentido. Seus pais eram religiosos mas ele não era, por mais que tentasse e ele tentou. Ele seguia o que seu coração pedia. Dormia dentro do balde de roupa suja, às 4 da manhã, comendo porcarias, assistindo 101 Dálmatas. Sua mãe ficava muito brava. Logo ele pensava…